segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Das Formigas

nós acabamos esquecendo um resto de bolo do nosso casamento em cima da mesa. fomos dormir e o mundo era nós mesmos.
durante a noite, uma formiga avisou outra que avisou outra que uma montanha de açúcar havia aparecido sobre a mesa. Organizaram uma expedição. subiram pela parede, chegaram ao topo da mesa.
foi quando viram o que acharam ser o céu, todo aquele elo era o que iluminava o seus corações.mandaram chamar a rainha. ela tinha que ver aquilo!
a chegada da rainha foi como mágica. um grande evento para todos. ela resolveu que toda a colônia se mudaria para o bolo. acreditava que ali a vida seria algo melhor.
na manhã seguinte, nos levantamos e fomos até a cozinha. estávamos muito felizes para perceber o nosso próprio mundo do lado de fora.
minha esposa então parou. ficou olhando paralizada para a mesa da cozinha.
olhei então para o resto do bolo do nosso casamento.
acho que acabamos pensando a mesma coisa. enquanto olhávamos para aquele bolo, que nada mais era que o resto de nosso matrimônio, lembravamos que tudo aquilo tinha passado. que não eramos mais um simples noivo e uma simples noiva. a verdade é que tínhamos medo! medo de que a contagem regressiva da nossa felicidade teria começado naquele momento. tinhamos medo de acabarmos igual aquele bolo de festa. um resto que não combinava em nada com a decoração da nossa cozinha. afinal, o casamento é a instituição mais não-sólida existente!
pareceu, enfim, que despertamos. peguei o resto de lembranças e fui em direção ao lixeiro. minha esposa gritou, me fez tremer as mãos. me disse que aquelas formigas haviam comido o nosso casamento e que, agora, elas também faziam parte da nossa felicidade.
não a entendi no primeiro instante, mas logo depois, as idéias foram esclarescendo-se.
os anos foram se passando e as formigas se tornaram parte de nossa família e de nós mesmos. compramos uma espécie de casa de vidro onde elas instalaram suas próprias família. foram anos felizes. elas fizeram uma estátua em nossa homenagem e a colocaram no lugar mais alto. todos os finais de semanas elas se enfileiravam para tirarem fotos com o monumento. colocaram os nossos nomes na sua cidade e esperavam respostas nossas para os seus problemas. era contagiante!
as notícias começaram a rodar rápido. depois de cinco anos, começei a ir mal no trabalho. logo fui despedido. chegava em casa e enxergava um apartamento em pré-guerra. começávamos nossas brigas intermináveis. minha esposa dizia sempre que a culpa era completamente minha. era contagiante!
as formigas assistiam aquilo e começavam a entrar em ondas de depressão. começaram as nos culpar pela violência entre elas. elas diziam que era tudo por nossa causa. logo acorrentaram nossa estátua e a quebraram em pedaços. acusaram-nos de tudo! disseram que mudaram o nome de sua cidade e falaram que nos odiavam. era contagiante!
a situação no formigueiro ficava cada vez mais crítica e pandemônica a medida que não parávamos de brigar. era contagiante!
houve então uma reunião da associação do formigueiro. todas elas amarraram faixas brancas em suas cabeças, se enfileiraram até a torneira mais próximas e a direcionaram para suas casas. a ligaram e todo se juntaram a uma morte subita e sufocante. era contagiante!
o que era contagiante contagiou o outro.
assim como nosso casamento, morte súbita e sufocante.

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